NUNCA OS CONHECI
NUNCA OS CONHECI
"Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizámos nós em teu nome? E em teu nome não expulsámos demónios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade." (Mateus 7.22,23)
Esse texto está inserido na conclusão do Sermão do Monte (Mt 5–7), onde Jesus alerta contra falsos profetas e enfatiza que não basta professar fé com os lábios ou realizar obras religiosas visíveis, é necessário obedecer à vontade de Deus.
Mateus 7.22,23 aponta para um último julgamento. Ele fala sobre pessoas que, mesmo com aparência religiosa e dons espirituais, serão rejeitadas por Cristo no dia do acerto final.
“Naquele dia”: expressão escatológica comum no AT e NT, referindo-se ao Dia do Juízo.
“Senhor, Senhor”: repetição hebraica que indica ênfase emocional, mas não necessariamente submissão verdadeira. Muitos reconhecem Jesus com palavras, mas não se submetem a Ele de fato (Lc 6.46).
“Não profetizamos… expulsamos demônios… fizemos maravilhas?”: tríade de obras poderosas que indicam autoridade e atividade espiritual intensa, mas que podem ser feitas sem comunhão com Cristo (Mt 24.24; 2Ts 2.9).
No versículo 23, vem a resposta de Jesus:
“Nunca vos conheci”: a palavra grega usada aqui para “conhecer” (ἐγνώμην – ginōskō) refere-se a um conhecimento relacional, íntimo. Jesus não está dizendo que desconhece intelectualmente essas pessoas, mas que nunca teve uma relação real e viva com elas.
“Apartai-vos de mim”: frase judicial. Um veredito. Ecoa o Salmo 6.8 (“Apartai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade”), que também está por trás dessa condenação.
“Vós que praticais a iniquidade”: literalmente, “vocês que vivem na anomia” (ἀνομία – anomia), ou seja, sem lei, em desobediência constante. Aqui está o contraste: fizeram obras espirituais, mas viveram em rebeldia contra a vontade de Deus.
Obras espirituais não são prova definitiva de salvação, a eficácia aparente de ministérios e dons não comprova a presença da graça salvadora. Judas também realizou sinais, mas se perdeu. Jesus reuniu os Doze e lhes deu poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar enfermidades. Depois, enviou-os para anunciar o reino de Deus e curar os enfermos (Lc 9.1,2). Judas estava entre eles. Fez as mesmas coisas que eles. Mas, não era um deles.
O Relacionamento com Cristo é o centro da vida cristã, o que Cristo exige não é uma “carreira religiosa”, mas uma vida de intimidade, obediência e santidade.
A verdade sobre a salvação será revelada “naquele dia”, ou seja, não é pela aparência, nem pelo sucesso visível no ministério, mas pelo estado do coração diante de Deus.
Este texto não é uma ameaça para os fiéis, mas um alerta para os falsos convertidos, aqueles que confiam mais em sua atuação religiosa do que na graça transformadora de Cristo. É um chamado: ao exame pessoal (2 Cor 13.5); à dependência diária da graça; à prática da vontade de Deus, não só ao seu anúncio; a uma vida que reflita intimidade com o Senhor, e não somente aparência de espiritualidade.
Nem todo ministério é reflexo de intimidade. Jesus não reconhecerá aquilo que não nasceu da comunhão com Ele.
— Rafael Assiz
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