ÀS VEZES EU MESMO ME ACUSO, MAS CRISTO NÃO ME CONDENA
ÀS VEZES EU MESMO ME ACUSO, MAS CRISTO NÃO ME CONDENA
Quem seria seu acusador? Sua própria consciência? As pessoas que conhecem suas falhas?
Há um tribunal silencioso que todos carregamos na alma. Nele, a consciência nos aponta o dedo, a lembrança nos acusa, e até os que caminham ao nosso lado encontram falhas em nós. Às vezes, o eco dessas vozes se torna tão ensurdecedor que passamos a acreditar que não há saída, que somos culpados sem perdão.
Sim, eu me acuso. As minhas fraquezas estão diante de mim como um espelho sujo que não consigo limpar. As pessoas podem nos acusar, e muitas vezes elas têm razão. Mas a pergunta decisiva não é o que pensamos sobre nós, nem o que os outros pensam de nós. A questão é: Jesus te acusa?
O apóstolo Paulo escreveu: “Quem se atreve a acusar os escolhidos de Deus? Ninguém, pois o próprio Deus nos declara justos diante dele. Quem nos condenará, então? Ninguém, pois Cristo Jesus morreu e ressuscitou e está sentado no lugar de honra, à direita de Deus, intercedendo por nós.” (Rm 8:33,34).
Aqui está o mistério da graça. A palavra grega hilastḗrion (ἱλαστήριον) nos lembra que Cristo é a nossa (propiciação), o lugar de encontro entre a justiça de Deus e a nossa miséria. No Antigo Testamento, o hilastḗrion era o propiciatório, a tampa da arca onde o sangue do cordeiro era derramado no Yom Kippur. Ali, o juízo encontrava o perdão. No Novo Testamento, Paulo ousa dizer que Cristo é o nosso propiciatório (Rm 3:25). Ele não somente oferece o sacrifício. Ele é o sacrifício!
E não foi um sacrifício qualquer. O termo grego lýtron (λύτρον), traduzido como (resgate), exprime o preço pago pela libertação de um escravo ou de um condenado. Jesus declara: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate (lýtron) por muitos” (Mc 10:45).
Ele não somente me defende diante do tribunal. Ele pagou o preço que eu jamais poderia pagar. Eu me acuso, e não estou errado; os outros me acusam, e muitas vezes estão certos. Mas quando me volto a Cristo, descubro que a acusação perdeu o poder. A voz que realmente importa não me condena, mas me chama: “Filho, teus pecados estão perdoados.”
A cruz é o tribunal onde a acusação e a misericórdia se encontram. O sangue derramado é o hilastḗrion (propiciação) que cobre a minha vergonha; a vida entregue é o lýtron (resgate) que paga a minha dívida.
Então, o peso das minhas culpas e das acusações humanas, eu me refugio na única verdade que pode sustentar minha alma: se Cristo morreu por mim, ressuscitou por mim e intercede por mim, quem ousará me acusar?
No final, não é a minha voz, nem a voz do mundo que decide o meu destino. É a voz de Jesus. E a voz dEle, banhada de sangue e graça, não acusa, ela absorve, transforma e salva.
E diante dessa verdade, só resta proclamar em triunfo: “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus!” (Rm 8:1).
— Rafael Assiz
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