SOFRIMENTO E GRAÇA, QUANDO A DOR NÃO É CULPA.

SOFRIMENTO E GRAÇA, QUANDO A DOR NÃO É CULPA.

Vivemos em uma época em que todo sofrimento parece precisar de explicação. Se ficamos doentes, logo pensamos: “Onde errei?” Se nos sentimos tristes, ouvimos: “É falta de fé, de foco, de inteligência emocional.” A cultura contemporânea, marcada por exigências de produtividade, sucesso e desempenho, transformou a dor em falha pessoal. E, assim, passamos a carregar um fardo invisível: a culpa de sentir dor.
Mas o Evangelho nos ensina outra lógica. Quando os discípulos perguntam a Jesus sobre o cego de nascença, “Quem pecou, ele ou seus pais, para que ele nascesse cego?” (João 9:2), eles falam com a voz de um mundo que sempre procura um culpado para cada dor. A resposta de Jesus é um corte profundo nessa mentalidade: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas isso aconteceu para se manifestarem nele as obras de Deus.” (João 9:3). Jesus quebra o vínculo automático entre dor e culpa. Ele ressignifica o sofrimento: em vez de castigo, possibilidade de revelação divina, misericórdia e graça de Deus.
É esse mesmo Cristo que, nas parábolas, não acusa os que erram, abraça. O filho pródigo não recebe sermão, mas festa (Lucas 15:23,24). A ovelha perdida não é deixada no deserto como punição, mas é buscada com ternura e colocada sobre os ombros do pastor (Lucas 15:4-7). Jesus revela um Deus que não precisa da perfeição para amar, nem do desempenho para agir. Um Deus que acolhe antes de exigir.
No Sermão do Monte, Jesus proclama: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados.” (Mateus 5:4). Ele não pergunta por que choram, nem exige que parem. Ele somente prometeu: há consolo. Há um Reino onde a lágrima não é fraqueza, mas linguagem. Onde a dor não é erro, mas lugar de encontro com o divino.

O mundo manda otimizar. Jesus convida a repousar. O mundo cobra resultados. Jesus oferece presença. O mundo exige explicações. Jesus, o abraça.

Em tempos em que o sofrimento virou sinal de fracasso pessoal, talvez a maior revolução espiritual seja reconhecer: algumas dores não precisam de cura imediata, mas de tempo. Algumas angústias não são falhas a corrigir, mas testemunhos de que ainda estamos vivos e que Deus ainda age em nós.
Nem toda dor é culpa. Às vezes, é graça e você nem percebeu.
— Rafael Assiz 

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