QUEM É EDMUNDO?
QUEM É EDMUNDO?
Já assisti várias vezes à trilogia As Crônicas de Nárnia, mas, em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, sempre me incomodo com Edmundo. Penso: “Que cara chato! Teimoso, ingrato, facilmente enganado!” No entanto, ao final, percebo uma verdade desconfortável: Edmundo sou eu.
Edmundo personifica o drama da natureza humana. Ele é movido pelo desejo, fascinado pelo poder e cego pela ilusão do prazer imediato. É o irmão que trai sua família por um prato de doces, que se deixa seduzir por promessas falsas e se alia ao inimigo sem perceber o perigo. Ele quer ser mais do que é, sente inveja de Pedro, despreza Lúcia e não confia em Susana. Ele representa o pecador — perdido, enganado, cheio de orgulho e egoísmo.
Mas Edmundo não pode se redimir sozinho. A Feiticeira Branca o acusa com base na “magia profunda” que governa Nárnia: todo traidor pertence a ela e deve morrer. Aqui, encontramos um eco da realidade espiritual descrita na Escritura: “O salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23). Se Nárnia tem suas leis imutáveis, quanto mais o universo moral de Deus? O juízo é inevitável.
Contudo, a história não termina na condenação. Surge Aslam, o verdadeiro rei, que se oferece para morrer no lugar de Edmundo. Esse é o coração da doutrina da justificação: um substituto inocente toma sobre si a culpa do culpado. Como Cristo na cruz, Aslam aceita a sentença para o traidor poder viver. “Ele foi ferido por causa de nossa rebeldia e esmagado por causa de nossos pecados” (Isaías 53:5).
A beleza da justificação está no fato de que Edmundo não é salvo por uma mudança de atitude, mas pelo sacrifício de Aslam. Sua redenção não vem por algo que ele faça e o torne digno, mas da graça de um rei que o ama apesar de sua traição. E essa graça transforma. Após ser resgatado, Edmundo não é mais o mesmo. Ele se torna humilde, aprende a lutar pelo bem e recebe o título de rei de Nárnia. Isso reflete a obra completa de Cristo: Ele não somente nos perdoa, mas nos regenera, tornando-nos novas criaturas (2 Coríntios 5:17).
Da próxima vez que assistir a Nárnia, talvez eu continue achando Edmundo um personagem chato no começo. Mas, no final, sei que ele sou eu — e que, assim como ele, só há esperança para mim porque Cristo tomou o meu lugar.
— Rafael Assiz
Comentários
Postar um comentário