O VERBO QUE SE TORNOU CARNE
O VERBO QUE SE TORNOU CARNE
Jesus sob o ohar do apóstolo do amor
No próximo trimestre, estudaremos o Evangelho de João, uma narrativa profunda e teológica do Novo Testamento.
Ao abrir suas páginas, somos imediatamente transportados para uma dimensão espiritual. Diferente dos Evangelhos Sinóticos, João não inicia sua narrativa com genealogias ou relatos do nascimento de Jesus, mas com uma proclamação cósmica: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (Jo 1.1). O termo grego utilizado para "Verbo" é λόγος (lógos), que significa "palavra", mas que, no contexto filosófico e teológico, carrega um significado ainda mais profundo. No pensamento hebraico, o lógos remetia à Palavra criadora de Deus, aquela que trouxe o universo à existência (Gn 1). João, inspirado pelo Espírito Santo, declara que essa Palavra eterna não era um princípio abstrato, mas uma Pessoa: Jesus Cristo, o Deus encarnado.
João, o autor deste Evangelho, era um dos discípulos próximos de Jesus. Ao lado de Pedro e Tiago, testemunhou momentos singulares da vida do Mestre, como a transfiguração (Mt 17.1-8) e a agonia no Getsêmani (Mc 14.33,34). Seu Evangelho, escrito provavelmente entre 85 e 95 d.C., apresenta um Cristo glorificado, ressaltando sua divindade e o propósito de sua vinda: “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31). João O revela como o Filho eterno de Deus, o Criador encarnado, aquele que possui vida em si mesmo e concede vida a todos os que nele creem (Jo 5.26).
Entre todas as afirmações teológicas do prólogo joanino, talvez nenhuma seja tão impactante quanto João 1.14: "E o Verbo se tornou carne e habitou entre nós". A palavra grega para "habitou" é ἐσκήνωσεν (eskēnōsen), que pode ser traduzida como "armou sua tenda" ou "tabernaculou" entre nós. Essa expressão remete ao Tabernáculo no deserto, onde a presença de Deus se manifestava entre o povo de Israel (Êx 40.34-38). Assim, João revela que Jesus, o Deus eterno, veio habitar entre os homens, revelando o Pai e cumprindo seu plano redentor.
O mistério da encarnação foi exaltado por muitos pensadores cristãos ao longo da história. Agostinho de Hipona declarou: "Ele não perdeu o que era, mas assumiu o que não era", ressaltando que Cristo permaneceu Deus enquanto se fez homem. João Wesley via a encarnação como a forma mais sublime do amor divino, destacando que Deus não apenas visitou a humanidade, mas tornou-se um de nós para nos redimir. Em seu famoso sermão “O Grande Privilégio dos que Nascem de Deus”, ele afirmou: "O Filho de Deus se fez Filho do Homem para que os filhos dos homens pudessem se tornar filhos de Deus." Isso ecoa João 1.12: "Mas a todos que creram nele e o aceitaram, ele deu o direito de se tornarem filhos de Deus."
Na Escola Dominical, seremos privilegiados a contemplar a grandeza do mistério da encarnação. O Criador do universo se fez homem, caminhou entre nós, revelou o amor do Pai e ofereceu sua vida para que tivéssemos vida eterna. O Evangelho de João nos convida a ir além de um conhecimento superficial e mergulhar na revelação divina. Que, neste próximo trimestre, desperte em nós um profundo amor por Cristo e uma fé firme em sua identidade como o Verbo eterno de Deus. Afinal, conhecer Jesus é conhecer o próprio Deus.
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