A VERDADE DO LUTO OU A ILUSÃO DA FESTA

A VERDADE DO LUTO OU A ILUSÃO DA FESTA

“É melhor ir a funerais que ir a festas; afinal, todos morrem, e é bom que os vivos se lembrem disso.” (Eclesiastes 7:2 - NVT)

Nem tudo o que parece agradável é verdadeiramente bom. A festa fascina, distrai e nos envolve em uma atmosfera de prazer momentâneo, mas é no luto que a alma desperta para aquilo que realmente importa. A sabedoria de Eclesiastes 7:2 nos ensina que há mais valor na casa do luto do que na casa da festa, pois ali nos deparamos com a realidade da vida e aprendemos lições que a euforia nunca nos ensinará.
O luto é incômodo porque nos tira da ilusão de permanência. Ele nos obriga a encarar a finitude e a refletir sobre a fragilidade da existência. Enquanto a festa mascara a dor, o sofrimento expõe verdades profundas sobre nós mesmos e sobre Deus. No entanto, a sociedade moderna rejeita a dor e busca anestesiá-la constantemente com prazeres passageiros. Criamos um mundo de entretenimento contínuo para evitar qualquer contato com a angústia da alma. Mas, como C.S. Lewis afirmou, “Deus sussurra em nossos ouvidos por meio de nosso prazer, fala-nos mediante nossa consciência, mas clama em alta voz por intermédio de nossa dor; este é seu megafone para despertar o homem surdo.”
Quando Jesus chorou por Lázaro (Jo 11:35), Ele não o fez por desespero, mas para demonstrar que o luto tem um propósito. Mesmo sabendo que ressuscitaria seu amigo, Cristo permitiu-se sentir a dor da perda e revelar que, diante do sofrimento, a fé não deve ser substituída pela negação, mas fortalecida pela esperança. A dor, quando enfrentada com maturidade espiritual, não nos destrói — ela nos transforma.
Paulo também entendeu essa realidade ao afirmar: “O viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fp 1:21). Ele sabia que a vida terrena é passageira e que somente aquilo que está fundamentado em Deus tem valor eterno. A grande ilusão da festa é sua promessa de alegria sem fim, quando, na verdade, ela somente encobre temporariamente as inquietações da alma.
Isso não significa que o prazer seja pecaminoso ou que a alegria deva ser evitada. Deus nos criou para vivermos em comunhão e experimentarmos momentos de felicidade. No entanto, quando fazemos do entretenimento e da fuga da dor o centro de nossa existência, caímos na ilusão de que a vida pode ser plena sem enfrentar suas crises.
A verdadeira alegria não é a ausência de sofrimento, mas a certeza de que ele tem um propósito. O luto nos ensina sobre nossa fragilidade, mas também nos convida a confiar em Deus. Fugir da tristeza nos torna superficiais; aceitá-la nos torna sábios. A casa do luto não é um lugar de desespero, mas um espaço onde o coração amadurece, a fé se fortalece e a eternidade se torna mais real.


Pr. Rafael Assiz @rafaelassiz
Escritor, Teólogo, Mestrando em Ciências da Religião (UMESP)
Pós-graduado em Teologia e Interpretação Bíblica, Estudos Bíblicos no Novo Testamento e Aconselhamento e Psicologia Pastoral.

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